"Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo."
Manoel

domingo, 4 de março de 2012

Nos meus 10 dias aqui...

No dia 23 de Fevereiro de 2012, mesmo dps de muito olhar para trás, deixei família, amigos, namorado, meu país varonil e embarquei em uma viagem que há tempos planejava, uma viagem que me fizesse sentir só (comigo mesma), em outro país, com outra língua, cultura, moeda, comida, outras pessoas. É uma necessidade de crescimento, enriquecimento pessoal que agora vem sendo saciada.
Estou na Argentina (Buenos Aires) em um intercâmbio da Unesp para UBA, sim, vim para aprender. Mesmo sem minhas aulas terem começado, este país muito já me ensinou. E é sobre esse aprendizado que quero escrever para vocês. 
A comunicação no mundo apesar de extremamente avançada ainda se faz por muito custo (financeiro tbm) então como não posso estar sempre falando com todos como de fato gostaria, aqui sacio minha vontade de me expressar na minha língua materna, pq quando nos encontramos em situações de perigo, ou de total sinceridade, honestidade é na nossa língua e nosso povo que nos recolhemos, tudo que queremos e buscamos é compreensão, queremos entender e ser entendidos. E é aí que a aventura começa...

Primeiro obstáculo: A LÍNGUA

Este obstáculo se permanece invicto. Apesar de todas as sacadas de apostila (Arturzinho ;D) e toda simulação que estas aulas nos proporcionaram, aqui, em terra estrangeira, é faca na caveira, são todas as matérias juntas e misturadas com sotaques, entonações, particularidades, expressões idiomáticas que só sentindo na pele, ou melhor, na língua (em si). Todos os idiomas tem uma melodia, e apesar de o espanhol ser uma música conhecida, até que se decore a letra e comece a cantá-la, vai um bom tempo para sentir as notas, os instrumentos, entrar no ritmo e assim, dançar conforme a música. 
Me encontro no momento decorando a letra. Compreendo o que me cantam, mas ainda não me sinto preparada para sair cantando por aí, só no chuveiro por enquanto.
Estou em um hostel, chama-se Sabatico, gosto bastante daqui, é perto das principais avenidas e o pessoal que trabalha aqui é muito receptivo; o quarto têm duas beliches e é bem apertado, não há guarda-roupa e este fato vem estimulando minha memória como nunca, toda vez que saio do quarto, obrigo minha memória lembrar das chaves, sempre tudo com cadeado, compartimento da beliche, mala e mochila. Falam que argentinos não são muito confiáveis, mas quem pode falar com tanta confiança generalizando assim um povo? Na dúvida, fico com a prevenção e não com o preconceito. Aí que mora meu medo, confiar na minha memória. Em dez dias aqui, já tranquei as chaves dentro do compartimento que fechei com o cadeado (obrigando-os cerrar o compartimento para que eu não pagasse 300 pesos para um chaveiro vir aqui abrir para mim) e já perdi minha chave dentro do próprio hostel em apenas 15 passos que dei do meu quarto ao banheiro. Mas são coisas que nem Freud explica, então não entrarei em detalhes, apenas me conformo e sigo em frente.