"Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo."
Manoel

sábado, 10 de janeiro de 2015

sábado, 15 de novembro de 2014

um lance é um lance

já era o quarto encontro (ou ainda?) 
desse modo só poderiam estar saindo do quarto, de um quarto de motel.
era bem dia e todos resolveram despernoitar ao mesmo tempo.
fila pra sair, fila pra pagar. risos por dentro pq todos sabem q todos sabem o q todos estavam fazendo. evitam encarar nas olheiras alheias, eu gosto...cansaço físico, xanal, vejo qdo é só luxúria, amor, romance...um lance. ´é um lance e não disfarço.
- R$250 
(-oi? nem água eu bebi, como tudo isso por um quarto e duas toalhas?) 
ele paga, pega minha perna e sorri.
-almoça comigo? 
faço que sim com a cabeça.
restaurante chique, eu já dando xilique (por dentro) pensando nos preços. fiz as contas aproximadas com taxa de erro em 10% para menos ou para mais e já faz um montante de dois mil reais (gastos com a gte). 
(-nunca consigo pagar nada).
só penso na minha conta universitária, sequer posso dividir. abaixo do medíocre.
estamos no restaurante que ele mais gosta "e que eu não vinha há tempos" - disse ele.
(-é só um lance) reforço o pensamento para não me envolver.
tudo gostoso, sempre o é. ele vai ao banheiro (-minha chance de pagar a conta) desço correndo sem dar conta de que talvez minha conta bancária estivesse negativa (-possivelmente) 
-moça, rápido antes que ele desça! quero pagar a conta da mesa 7...ele nunca deixa.
-R$400
-o quê?! dois rodízios e três sucos?
fez que sim com a cabeça.
-esquece o que eu disse então, beleza?
voltei correndo, sentei. poker face.
descemos três segundos depois de volta...
a moça me viu, segurou e não aguentou, riu. eu também, mas disfarcei.
pq ele não entenderia nada, pagaria a conta e sairia desconfiado. antecipo.
-vc sabe pq ela tava rindo, né?
-eu deveria?
-claro, tá rindo pq devo ser a quinta mina q vc traz aqui esse mês
-ah, não é possível?! última vez que vim aqui foi com minha ex, um ano atrás e...
-sei...não se justifique que piora...

e não teve quinto encontro. deveria ter pedido mais shimeji. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

por que não culpar o dia-piada de péssima qualidade?


umidade relativa do ar: 13%
sensação térmica: deus no céu, diabo na terra
massa polar atlântica aprendida nos livros de geografia: já não faz o caminho habitual, não a culpo, rotas alternativas quase sempre evitam congestionamentos, assaltos e tomar sol do mesmo lado do braço.
o nível do mar resolveu tirar férias e deixou seu primo distante, o volume morto em seu lugar.
com tantas incongruências, faz sentido eu me encontrar sob efeito do álcool olhando a chuva surpresa mais bem-vinda da cidade e pensando como cartões de banco com limite alheio (que você não pode pagar) às vezes pagam pelas pseudo-vinganças que você gostaria de fincar sobre o cosmos e as partículas sub-atômicas ainda anônimas, mas você não pode pq quando era pequena aprendeu que a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena. nessa ordem. e nessa ordem dos fatores, o produto altera sim, com a alma morta, o veneno em nada tem culpa e a vingança já não importa, o show já não importa, as não respostas, vales de vácuos indeferem e vc só quer embriagar-se com a chuva mais bem-vinda da cidade.
prevejo ressaca

domingo, 4 de março de 2012

Nos meus 10 dias aqui...

No dia 23 de Fevereiro de 2012, mesmo dps de muito olhar para trás, deixei família, amigos, namorado, meu país varonil e embarquei em uma viagem que há tempos planejava, uma viagem que me fizesse sentir só (comigo mesma), em outro país, com outra língua, cultura, moeda, comida, outras pessoas. É uma necessidade de crescimento, enriquecimento pessoal que agora vem sendo saciada.
Estou na Argentina (Buenos Aires) em um intercâmbio da Unesp para UBA, sim, vim para aprender. Mesmo sem minhas aulas terem começado, este país muito já me ensinou. E é sobre esse aprendizado que quero escrever para vocês. 
A comunicação no mundo apesar de extremamente avançada ainda se faz por muito custo (financeiro tbm) então como não posso estar sempre falando com todos como de fato gostaria, aqui sacio minha vontade de me expressar na minha língua materna, pq quando nos encontramos em situações de perigo, ou de total sinceridade, honestidade é na nossa língua e nosso povo que nos recolhemos, tudo que queremos e buscamos é compreensão, queremos entender e ser entendidos. E é aí que a aventura começa...

Primeiro obstáculo: A LÍNGUA

Este obstáculo se permanece invicto. Apesar de todas as sacadas de apostila (Arturzinho ;D) e toda simulação que estas aulas nos proporcionaram, aqui, em terra estrangeira, é faca na caveira, são todas as matérias juntas e misturadas com sotaques, entonações, particularidades, expressões idiomáticas que só sentindo na pele, ou melhor, na língua (em si). Todos os idiomas tem uma melodia, e apesar de o espanhol ser uma música conhecida, até que se decore a letra e comece a cantá-la, vai um bom tempo para sentir as notas, os instrumentos, entrar no ritmo e assim, dançar conforme a música. 
Me encontro no momento decorando a letra. Compreendo o que me cantam, mas ainda não me sinto preparada para sair cantando por aí, só no chuveiro por enquanto.
Estou em um hostel, chama-se Sabatico, gosto bastante daqui, é perto das principais avenidas e o pessoal que trabalha aqui é muito receptivo; o quarto têm duas beliches e é bem apertado, não há guarda-roupa e este fato vem estimulando minha memória como nunca, toda vez que saio do quarto, obrigo minha memória lembrar das chaves, sempre tudo com cadeado, compartimento da beliche, mala e mochila. Falam que argentinos não são muito confiáveis, mas quem pode falar com tanta confiança generalizando assim um povo? Na dúvida, fico com a prevenção e não com o preconceito. Aí que mora meu medo, confiar na minha memória. Em dez dias aqui, já tranquei as chaves dentro do compartimento que fechei com o cadeado (obrigando-os cerrar o compartimento para que eu não pagasse 300 pesos para um chaveiro vir aqui abrir para mim) e já perdi minha chave dentro do próprio hostel em apenas 15 passos que dei do meu quarto ao banheiro. Mas são coisas que nem Freud explica, então não entrarei em detalhes, apenas me conformo e sigo em frente.